Colégio Agrícola de Frederico Westphalen
Dentre as peculiares características apresentadas pelas plantas daninhas, a ampla variabilidade genética assume papel fundamental em sua adaptação e sobrevivência nas mais distintas condições ambientais. Neste contexto, a intensificação do uso de herbicidas nas últimas décadas elevou a pressão de seleção em comunidades vegetais, alterando a composição da flora específica ou selecionando populações de biótipos resistentes, neste último caso, com algum mecanismo de resposta ao distúrbio ambiental gerado pela aplicação dos produtos químicos. O fenômeno da resistência aos herbicidas, ou seja, a capacidade natural de algumas espécies de plantas em sobreviver e reproduzir-se após a exposição a uma dose de alguma molécula química com ação herbicida, que normalmente seria letal para a população original é uma característica herdável, capaz de perpetuar-se por gerações. Plantas com estas características (resistentes) ocorrem naturalmente, de forma espontânea em suas populações, entretanto em baixa freqüência; ocorre que esta freqüência é ampliada pela pressão de seleção exercida pelo herbicida, não sendo, portanto, o herbicida o agente causador, mas sim selecionador dos indivíduos resistentes. Com intuito de desmitificar o fato da “criação” de resistência em plantas por meio da aplicação de herbicidas, realizou-se a pesquisa que segue. Tomou-se como base para o estudo o herbicida não-seletivo inibidor da enzima EPSPS, glifosato, por tratar-se de uma molécula amplamente utilizada na agricultura há mais de uma década e freqüentemente empregada de forma indiscriminada. Em seguida foram identificadas e coletadas mudas de plantas daninhas com ocorrência freqüente em lavouras da região Médio-Alto-Uruguai, as quais foram transplantadas e aclimatadas em caixas de cultivo de madeira, e posteriormente submetidas à aplicação de glifosato. De acordo com o controle observado (plantas mortas/plantas vivas) as espécies puderam ser classificadas em três categorias com relação à eficiência do mecanismo de ação do referido herbicida: resistentes (Conyza sp.), de difícil controle (Ipomoea sp.; Thalia geniculata L.) e fácil controle (Euphorbia heterophylla L.; Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc.; Digitaria horizontalis Wild.). Tais resultados confirmam os registros da literatura de resistência apenas para plantas de Conyza sp., sendo os casos de Ipomoea sp. e Thalia geniculata L. uma questão de manejo no estádio de desenvolvimento adequado da planta. Euphorbia heterophylla L., Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. e Digitaria horizontalis Wild. não apresentam dificuldade de controle com glifosato quando o mesmo é utilizado na dosagem recomendada.
Referências bibliograficas:
LEBARON, H. M.; GRESSEL, J. Herbicide resistance in plants. New York: Wiley-Interscience Publications, 1982. 401 p.
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